ENTREVISTA || Manuel Sans Segarra é médico, especialista em cirurgia geral, com um foco particular em cirurgia oncológica. É médico e garante que tem provas objetivas de que há vida depois da morte. "Chegaremos a um momento em que seremos todos santos"
É médico e garante que tem provas objetivas de que há vida depois da morte. "Chegaremos a um momento em que seremos todos santos"

ENTREVISTA || Manuel Sans Segarra é médico, especialista em cirurgia geral, com um foco particular em cirurgia oncológica. Garante que existe vida depois da morte e que tem provas científicas disso mesmo, que relata no seu novo livro e resume numa conversa com a CNN Portugal
Manuel Sans Segarra acredita que um dia todos seremos capazes de entrar em contacto com a nossa supraconsciência. Nessa altura, todos teremos a capacidade de sermos bons e “a Terra será o Céu”. “Não haverá maldade nem desigualdades”, assegura.
Veio a Portugal apresentar o novo livro “A Supraconsciência Existe – Vida depois da Vida”, onde relata casos de pacientes que viveram experiências de quase morte e entraram em contacto com a supraconsciência e com a vida que existe para além da morte… ou desta vida.
Criado no cristianismo, desligou-se da religião, mas ficaram os valores que os pais lhe “inculcaram” e pelo quais lhe é “grato”: “bondade, empatia, ajudar as pessoas, não roubar, ser uma boa pessoa”. O que abandonou, explica, foram os “dogmas”. E explica que entrar em contacto com a supraconsciência é “encontrar Deus dentro de cada um de nós”.
Como se pode provar cientificamente que existe vida depois da morte? Parecem duas coisas antagónicas: a ciência e essa dimensão espiritual…
Esta tem sido precisamente a minha investigação desde que comecei a estudar as experiências de quase morte. Procurar uma justificação científica e objetiva, sem contar de todo com aspetos religiosos ou com aspetos metafísicos. Ou seja, com o método científico cartesiano e newtoniano, que é o método que estuda o mundo macroscópico, o mundo objetivo e o mundo real. Esse era o meu objetivo, demonstrar que existe vida após a morte física, mas com métodos científicos.
Ao estudá-lo, deparei-me com várias manifestações da nossa identidade autêntica. Aquilo a que chamo de supraconsciência. O que nos permite estudá-la melhor são as experiências de quase morte, porque são muito bem definidas, são longas, o doente relata o que viveu, ou seja, há uma série de fatores que favorecem o seu estudo objetivamente.
E que provas objetivas encontrou?
Ao estudar as experiências de quase morte, vi que há dois aspetos fundamentais. Existem provas objetivas reais.
Por exemplo?
Eles podem descrever exatamente o que está a acontecer quando estou a reanimá-los, numa altura em que estão clinicamente mortos, à distância que você quiser. E você pode verificar exatamente o que eles estão a descrever que está a acontecer a quilómetros de distância, nas antípodas, na Austrália, e você está aqui, certificando-se de que é exatamente o que está a acontecer quando o seu corpo está morto e estamos a reanimá-lo.
Os meus pacientes descreveram-me tudo o que estava a acontecer no serviço de urgências, enquanto os tinha mortos e os estava a tentar reanimar com o desfibrilador, picando-lhes o coração, enquanto fazia massagem cardíaca,.. Depois verifiquei, e posso certificar perante um notário, que tudo o que me contaram é exatamente o que estava a acontecer.
Eles são capazes de nos detalhar, independentemente do espaço e do tempo, no mesmo momento em que ocorre, a informação do que está a acontecer com todo o tipo de pormenores, o que demonstra claramente que eles viram, não inventaram.
Mais provas objetivas: descobrem-se coisas que vêm durante a experiência de quase morte, que impactam diretamente na sua vida e que não sabiam, que era impossível saberem. Descobrem, por exemplo, que são pessoas adotadas, descobrem familiares que nem sabiam que tinham, que os viram durante a experiência de quase morte e depois verificam, biologicamente, que são irmãos e familiares.
Outra coisa fundamental é estamos a fazer ressonâncias magnéticas funcionais a pacientes que tiveram uma experiência de quase morte e nos contam toda a experiência enquanto a ressonância magnética é feita. Veja bem: quando viram um objeto durante a experiência de quase morte, que nunca tinham visto antes, nem voltaram a ver, que estava a uma distância enorme de onde ele estava morto, e comentam isso, o lobo occipital é ativado.
Isso reflete-se na ressonância magnética?
Enquanto estão a fazer a ressonância magnética e depois contam a sua experiência de quase morte e falam de um objeto que motivou o seu interesse, que viram apenas durante a experiência de quase morte e que estava muito longe, não onde estava o seu corpo morto. O lobo occipital é ativado. É no lobo occipital que o ser humano interpreta as imagens.
Então pergunto ao neurologista: porque é que o lobo occipital é ativado? Sabe qual é a resposta? Ele diz: pode ter a certeza de que este doente viu este objeto. Eu digo-lhe: ele só viu este objeto durante a experiência de quase morte. O seu corpo estava numa maca, morto e nunca o tinha visto, nem antes nem depois. Ele diz: “Então, pode ter a certeza de que ele viu”.
E conseguimos explicar cientificamente porque é que isso acontece?
Existem neurónios no nosso cérebro chamados neurónios-espelho, responsáveis pela memória. Quando você vê um objeto que lhe interessa, esses neurónios ficam impregnados com a imagem. E você lembra-se dela, pode descrevê-la mais tarde, sem a ver. E quando a vê diz: “Olha, é a que eu vi”. Tem memória. Então, o doente tinha memória desse objeto que só viu durante a experiência de quase morte. Por isso o lobo occipital ativou-se durante a ressonância magnética ao descrevê-lo, porque houve uma interferência com a memória.
O neurologista, que não acreditava nisso, dizia-me que eram alucinações. Quando viu essa ressonância magnética, disse que pode garantir que a experiência de quase morte é verdadeira. Não é um sonho nem uma alucinação. Este doente realmente viu este objeto, com o qual teve contacto apenas durante a experiência de quase morte.
Portanto, algo dele saiu do seu corpo, foi para uma distância muito longa, viu esse objeto e condicionou a memória.
Mesmo assim, são experiências de quase morte. Não são experiências pós-morte. Nunca ninguém veio de outro mundo. Ou essas pessoas voltaram realmente do outro mundo?
São experiências de uma pessoa que está clinicamente morta. Está morta e isso é comprovado com um eletrocardiograma plano, um eletroencefalograma plano a partir dos 10 ou 15 segundos. Não tem atividade cerebral. Não tem atividade cardíaca. Não respira. Não tem reflexos. Está morto. E durante esse tempo em que está morto, tem essas experiências.
Não é nem antes nem depois, é durante um tempo em que está morto, em que é impossível ter sensibilidade, ter visão, ter todos os fatores que permitem ao ser humano relacionar-se com o exterior.
Já contou algumas experiências que os seus pacientes lhe contam. Tem alguma história em particular que o tenha marcado?
Todas as informações que me confirmaram que isso é verdade marcaram-me muito.
No início, tinha uma formação médica muito materialista, que é o que se estuda na Faculdade de Medicina, o método cartesiano e newtoniano. Quando me explicaram essas experiências, que vivi nos meus doentes, fiquei francamente surpreendido. ‘Isso é impossível’, dizia. ‘Pela minha formação médica que recebi na faculdade é impossível que isto seja verdade’. Mas depois vi algumas coisas que me fizeram dizer: ‘isto é verdade’.
Por exemplo, uma doente que nos conhecia –conto a história dela no livro - uma profissional de saúde que trabalhava no meu hospital. Conhecia-nos a todos. Esta doente um dia teve um acidente de trânsito muito grave e foi levada para o nosso hospital. Eu era o chefe de urgências que estava no hospital quando ela chegou. Ela estava morta. Diagnóstico de morte clínica. Eu reanimei-a, operei-a e, no pós-operatório, ela contou-se que saiu do seu corpo e ficou totalmente surpresa. Viu o seu corpo de fora. Ela me disse: ‘Você estava a fazer-me massagem e picou o meu coração. O dr. tal (com nome e apelido), anestesista, estava a ventilar-me. A dra. tal, (de hematologia) estava a fazer-me uma transfusão de sangue. O dr. tal (com nome e apelido), ortopedista imobilizou-me de um trauma, uma fratura. Ela não podia ver-nos. Estava morta. Não tinha pulso nem atividade cerebral.
Depois, esta doente contou-me tudo o que aconteceu no serviço de urgências, com todos os detalhes que se possa imaginar. Mesmo na parte mais distante, havia uma sala de operações de urgências. E ela disse-me que os traumatologistas estavam a operar uma fratura do colo do fémur. Depois fui à sala de cirurgia, consultei os computadores, conversei com o médico. Posso atestar que tudo o que ela me contou, enquanto estava com o corpo dela sobre a marquesa e lhe fazia massagem cardíaca, lhe picava o coração, aconteceu mesmo.
E como este caso, há centenas de casos na biografia mundial. Ou seja, temos provas objetivas, mas não temos uma explicação científica. Temos o que se chama epistemologia, o conhecimento, mas não temos a ontogenia, ou seja, o conhecimento da essência, da natureza, da origem. Estes dados não nos dão isso.
Esses relatos confirmam que é verdade, mas não nos dizem porque é que isso acontece. É isso?
Exato. Para procurar uma explicação é preciso recorrer à mecânica quântica. A mecânica quântica diz-nos que tudo é energia. E quando interpretamos a estrutura do universo como energia vibratória, então sim, vemos que todos os princípios, ou muitos dos princípios da mecânica quântica têm um paralelismo, uma semelhança muito evidente com tudo o que os doentes nos contam.
Numa entrevista contou o caso de uma mulher que se encontrou com a própria mãe que já tinha falecido…
Uma das características dos pacientes que tiveram uma experiência próxima da morte é que perdem o medo da morte. E perdem o medo da morte porque comprovaram que a morte não existe. A morte é uma transição, uma passagem para outra situação energética.
Esta doente de que lhe falei tinha perdido a mãe. Estava de luto. Era muito ligada à mãe. E a mãe dela tinha falecido.
Era a mesma paciente da história que nos relatou atrás?
Esta mesma que trabalhava no hospital. Esta doente, os doentes com cancro, com a experiência da quase morte, é muito frequente verem entes queridos já falecidos com quem eram muito ligados afetivamente. Esta doente contactou a sua mãe. Disse-me depois: ‘Foi a maior alegria que já tive na vida. Estava de luto, pois tinha perdido a minha mãe na dimensão humana. Comuniquei com ela telepaticamente. Ela disse-me que esperasse, que terminasse o meu ciclo de vida, que nos encontraremos novamente. Ela está viva noutra dimensão e está muito melhor do que quando estava na dimensão humana. Ela disse-me, doutor, que a morte não existe’.
Mas deixamos de ver essas pessoas. Enterramo-las ou cremamo-las. Há ali um fim…
Há uma transição para outra situação energética. Mas, dizia a minha paciente, “posso garantir que estive com a minha mãe e isso acontece em milhares de casos”.
Como é que um homem das ciências exatas, um médico, começou a interessar-se por esses temas mais transcendentais? Qual foi o ponto exato ou a situação que lhe deu o clique?
Não acreditava em nada antes. Falavam-me, diziam-me essas coisas e dizia que eram sonhos, alucinações.
O que é que aconteceu?
Foi um doente que atendi e me explicou todas essas coisas e pude comprovar que era verdade. Sempre fui muito curioso, gosto muito de investigar, de saber o porquê das coisas. Então, fiquei muito surpreendido com um doente. Ele disse-me coisas que era impossível, com o meu método científico, explicar.
E então comecei a procurar bibliografia, informação e percebi que este fenómeno é muito frequente. Há milhares e milhares de casos descritos e todos dizem o mesmo. Então disse, pela minha curiosidade investigadora, que aqui há algo que não sabemos e que é preciso investigar.
Começou com um doente. O que despertou exatamente a sua curiosidade?
Como investigador médico, procuro sempre o porquê das coisas. A supraconsciência é a nossa realidade existencial.
Todos estes doentes explicam-nos algo quando estão clinicamente mortos. Não têm consciência local ou neuronal, a consciência que o cérebro produz, os neurónios. Mas relatam-nos acontecimentos e explicam-nos outras coisas… encontram a sua mãe.
O que quer dizer? Que há outra consciência que persiste apesar da morte física, que supõe o fim da consciência local ou neuronal, mas persiste outra que chamo de supraconsciência, porque está acima da consciência normal e perdura apesar da morte física.
Podemos falar de supraconsciência em relação aos recém-nascidos, aos bebés dentro do útero, por exemplo?
No momento da conceção, quando os dois gametas se unem e se produz uma célula que dará origem a um ser humano, ele já tem consciência.
Consciência ou supraconsciência?
Consciência. Todo o ser vivo tem consciência.
Em que momento entra então a supraconsciência?
Quando há um determinado desenvolvimento cerebral. Não imediatamente, mas leva algum tempo. Mas todo o ser vivo tem consciência. Existem muitos graus de consciência. E o máximo é a supraconsciência, que é a que o ser humano tem, e essa supraconsciência entra quando há um desenvolvimento suficiente.
A supraconsciência existe e só se manifesta em determinadas circunstâncias. Em experiências de quase morte ou quando atinjo um determinado grau de espiritualidade. É isso?
Esse é o objetivo da nossa vida: descobrir a supraconsciência. Temos sempre a supraconsciência, mas ela está coberta ou oculta pelo ego, que é a falsa identidade. E o objetivo da nossa vida é precisamente descobri-la. E quando a descobrimos, é quando chegamos à grande perfeição, à santidade, à budeidade.
E como faço isso? Como acabo com o meu ego?
Pode ser feito de duas maneiras. Inconscientemente, os doentes em morte clínica. Eles não fazem nada e há pessoas que têm essa experiência.
Mas pode fazê-lo com meditação, meditando corretamente, com um método correto, com um mestre que lhe ensine como se faz. É preciso tempo, mas digo-lhe por experiência própria que é possível entrar em contacto com a sua supraconsciência. E, quando isso acontece, a sua vida mudmuda.
Uma das maneiras de contactar a nossa supraconsciência é a experiência de quase morte. Mas a telepatia, a clarividência, a precognição, as experiências místicas, a psicocinese, a lucidez terminal, as experiências dos moribundos, tudo isso é a mesma coisa, é a manifestação de diferentes formas da supraconsciência.
A medicina convencional, a medicina tradicional, está aberta a integrar esses conceitos? Ou está fechada a… esse misticismo?
Quando comecei a estudar estas questões, tive uma oposição frontal muito dura. Até me disseram: não faças isso porque vais prejudicar a tua carreira profissional.
E prejudicou?
Não, porque continuei a estudar, mas não disse nada. Era chefe do serviço de cirurgia numa unidade com 200 camas, professor na universidade. Naquela época, se começasse a pregar, teria prejudicado a minha carreira e o meu serviço. É por isso que só agora começo a falar sobre esse assunto. Continuei a estudar porque me interessava, mas guardava para mim. Físicos, médicos, teólogos, filósofos, religiosos, todos diziam: “Não se meta nisso, são sonhos, alucinações, coisas do cérebro, porque estás a sofrer uma paragem cardíaca. Deixa-te estar”.
Mas pude comprovar que uma experiência próxima da morte é totalmente diferente de uma alucinação. É outra coisa. E depois comecei a ter provas científicas… mecânica quântica, ressonância magnética, que me confirmavam que tudo é verdade.
Como é que os céticos iniciais reagiram quando começou a apresentar-lhes provas científicas?
Olhe, isso começou a mudar. No meu hospital fizeram um curso de cuidados intensivos. E eles já sabiam, eu tinha feito podcasts e outras coisas. E pediram-me para fazer a conferência de encerramento. Agora estou a dar conferências para associações profissionais, associações de médicos, academias reais.
O Papa ligou-me, estive com o Papa a falar sobre isto. Com o Dalai Lama também. Isto é um novo paradigma e tudo isto faz tremer os princípios científicos materiais, não é contra o método científico, estuda o objetivo, o que posso ver e tocar. E a experiência de quase morte estuda a nossa realidade, a energia, nós somos energia. Estuda um mundo que não vemos, mas que faz parte de nós igualmente.
Nós somos energia. O que posso ver é carne, mas esta carne é energia.
O que é que esse conhecimento pode mudar nas nossas vidas?
Pode mudá-las totalmente. Acompanhei os meus pacientes que tiveram uma experiência próxima da morte durante anos. Vi o impacto que isso teve nessas pessoas. Sentem-se muito incompreendidos. Não conseguem explicar porque não os compreendem. Em segundo lugar, perdem completamente o medo da morte. Já não lhes causa medo.
Dizem: “Doutor, se chegar a uma situação final. Tire-me a dor. Mas a morte não me assusta. Sei que vou para outro lugar”. Sabem que depois da vida entram em contacto com os seus entes queridos. A vida continua noutra dimensão, a morte não é o fim da nossa existência, é uma passagem para outra dimensão, para uma vida noutra dimensão energética.
Tornam-se muito intuitivos, ou seja, são pessoas, a intuição é uma precognição, sabem o que vai acontecer amanhã. Porque quando estão na outra etapa, só existe um tempo, o presente, o agora. Tudo é agora, o que aconteceu, o agora e o que virá. Tornam-se pessoas muito boas, regem-se por arquétipos de bondade. Controlam o ego facilmente. Tornam-se empáticos, altruístas, bondosos, justos, amorosos.
O material não lhes interessa. É preciso ter o material para viver, mas já não é um objetivo, é um meio para viver. Já não é o mais importante.
E tornam-se muito espirituais, mas perdem o interesse pela religião, porque a religião é muito dogmática e eles querem evidências, querem que lhes mostrem coisas.
Sabe o que o Papa me disse?
Não, mas gostava de saber.
Ele disse: “sei que você enche teatros com 2.000 e 2.500 pessoas e as igrejas estão vazias. E você diz o mesmo que a religião diz, que existe um Deus e que esse Deus se manifesta em cada um de nós com a supraconsciência. Se você diz o mesmo, como é que você consegue?”
E como é que consegue?
Respondi ao Papa que faço isso cientificamente e as pessoas querem evidências, provas. E a religião não faz isso. Na religião é preciso acreditar porque é o que diz a igreja, o dogma, e as pessoas não querem isso.
As pessoas tornam-se mais espirituais, mas menos dogmáticas...
Exato, tornam-se mais espirituais pela necessidade de terem a certeza de que têm Deus dentro delas e que têm de voltar com Deus à sua origem. Têm isso muito claro e isso condiciona-as a uma dinâmica vital de bondade, de amor.
Isso melhora a relação com as pessoas que têm a seu lado?
Totalmente. O que tem de mudar o mundo para melhor não são os políticos, nem os poderes factuais, nem os egos. Será quando se descobrir que há pessoas suficientes que conhecem a sua supraconsciência.
Diz que o ego é que tem medo da morte. Porquê?
Porque o ego sufoca a supraconsciência. O ego tem uma origem material, externa. Depende da matéria, do cérebro. É a identidade da consciência local ou neuronal. É a isso que chamamos de ego. Todos os medos que o ser humano tem, por mais banal, por mais insignificante que seja, são provocados pelo ego. E tem medo porque sabe que a morte é o fim da sua existência.
Como depende da matéria, com a morte desintegra-se. Os neurónios morrem, deixamos de pensar, deixamos de existir materialmente. Então o ego desaparece. É por isso que tem medo. Todo o medo é provocado pelo ego.
E, no fundo, todo o medo é medo da morte. Porque sabe que com a morte o ego desaparece.
Tem medo da morte?
Não tenho medo, sem dúvida. O que não gosto é de sofrer. Se chegar a uma situação final com dores e tal, direi: “dê-me coisas para tirar a dor”. Mas medo da morte, nem um pouco. Sei que vou para uma situação melhor.
Mas nunca teve uma experiência de quase morte…
Não. Mas com a meditação que pratico há anos, entro em contacto com a supraconsciência. Nos momentos profundos, entro em contacto. E nota-se. Sabe como se nota? Da mesma forma que os meus doentes me dizem na experiência. Quando entro em contacto com a minha supraconsciência, o mundo abre-se. Vejo que sou o universo, que estou unido a tudo, que faço parte de tudo, que estou unido com amor a tudo. E vejo a divindade em tudo. Uma rosa, um pôr do sol… vejo a essência das coisas.
Uma rosa é uma maravilha, mas se a olhar com o ego, é apenas mais uma rosa. Mas, se lhe vir a essência, é uma perfeição total. Um pássaro é perfeito tal como é feito.
Há quanto tempo faz meditação?
Comecei há muito tempo e tenho feito muitas horas, medito todos os dias, acompanhado por uma pessoa que medita há 40 anos. É muito profundo. Utilizo um método oriental, budista, o Raja Yoga de Patanjali.
Que mensagem gostaria de deixar para alguém que tem medo da morte?
O que tentaria fazer é dar-lhe muito amor, dar-lhe amor, dar-lhe energia positiva e explicar-lhe-ia coisas muito superficiais da realidade, dar-lhe-ia algum exemplo dos meus doentes, mas acima de tudo manifestaria amor, porque sei que nos últimos momentos é muito difícil compreender isto, é preciso tempo, é preciso lutar contra a ignorância, o que significa que essa pessoa evoluiu pouco.
Diz que a supraconsciência nos torna mais empáticos, nos traz mais amor. Mas se a supraconsciência nos traz mais empatia e amor, então deveria ser fácil sermos pessoas boas.
Deve ser fácil e é fácil. O que acontece é que ele tem um inimigo terrível, com uma força imensa, que é o ego. O ego procura por todos os meios encobrir, impedir que a supraconsciência aflore, porque quanto mais presente estiver a supraconsciência, mais afastado e controlado fica o ego. E o ego quer desenvolver os seus objetivos. E quais são os seus objetivos? O ego, o egoísmo, a afeição pelo material, o poder, a riqueza. Tudo isso a supraconsciência não deixa fazer, então o ego tem armas para encobrir, frear, impedir que a supraconsciência apareça. Somos inimigos de nós mesmos, pois temos duas identidades e uma delas é nossa inimiga. Esse é o objetivo da vida: controlar esse inimigo para que a outra identidade venha à tona.
No dia em que no universo, no nosso planeta, todos conheçamos a respetiva supraconsciência, a Terra será o Céu. Não haverá maldade nem desigualdades.
Poderíamos ser todos santos, em última instância...
Chegaremos a um momento em que seremos todos santos.
Acredita mesmo nisso?
Acredito que esta é a evolução do nosso planeta. O nosso planeta ainda está pouco evoluído, mas já há almas muito desenvolvidas. E, pouco a pouco, isto irá evoluir. E quando chegarmos ao máximo, será o Céu. Então, não terá sentido esta dimensão humana.
Vivemos na dimensão humana para descobrir a nossa supraconsciência. Quando todos a tiverem descoberto, viver na Terra em dimensão humana já não terá sentido. Não haverá guerras. Isto já será o Céu.
Então já não precisaremos de morrer ou de voltar de experiências de quase morte?
É o próximo nível. Você estará eternamente unida à consciência, em felicidade absoluta, eternamente. Isto é o que dizem os doentes, que não querem voltar, porque viram o que há do outro lado. Há doentes que me disseram que os prejudiquei, reanimando-os, porque não queriam voltar. Dizem-me: “Você não sabe o quão bem se está ali”.
Quando todos tivermos contacto com a nossa supraconsciência, a vida, a dimensão humana, já não tem sentido. Porque todos seremos amor.
É fácil gostar do cenário que descreve, mas custa acreditar que estamos a caminhar nessa direção.
Garanto-lhe que será assim.
Tive uma formação católica, cristã. Mas depois houve um momento em que me afastei. Não estava contra. Tinha os princípios e valores que me inculcaram os meus pais e ser-lhes-ei grato toda a vida. São valores de bondade, de empatia, de ajudar as pessoas, não roubar, ser uma boa pessoa. Mas afastei-me de todos os dogmas religiosos porque não lhes vejo sentido.
Uma pessoa que me diga, não acredito na Igreja, na religião. Eu digo, mas a sua finalidade não é acreditar na religião. A religião tem de ser tomada como um meio que ajude a descobrir a sua identidade autêntica, que é a espiritualidade. A espiritualidade é olhar para o seu interior e ver que tem Deus dentro de si.
Quando vemos crianças a morrer de fome em Gaza, a guerra na Ucrânia, as guerras em África... Como podemos acreditar que um dia todos seremos bons?
Ego. Tudo isso é ego, ego, ego.
Não há demasiado ego para que o mundo um dia se torne tão bom como descreve?
Mudará. Tardará, mas mudará. Já não será no nosso tempo. Já não estaremos cá, mas mudará. Tardará. Custará. Mas mudará. Ainda tem de morrer muita gente e ainda serão feitas muitas barbaridades antes que mude. Mas mudará.
Por onde começar a explorar este tema para quem está um pouco cético?
O primeiro grande inimigo para contatar com a sua supraconsciência é a ignorância. É não saber as coisas. Tem de se lutar contra a ignorância. Há muita bibliografia, muitos livros, leiam-nos.
E no momento que virem que há muitas provas científicas e objetivas, de que há algo a mais do que o material, é o momento em que se controla a ignorância. Aí meditem e comecem com um bom curso de meditação.
NOTA: A TVI vai transmitir no Jornal Nacional da próxima terça, quarta e quinta-feira uma entrevista intitulada "A vida depois da morte" com o médico Manuel Sans Segarra
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